sexta-feira, 4 de julho de 2014

“O modelo dos modelos”


Italo Calvino
                                               
Houve na vida do senhor Palomar uma época em que sua regra era esta: primeiro, construir um modelo na mente, o mais perfeito, lógico, geométrico possível; segundo, verificar se tal modelo se adapta aos casos práticos observáveis na experiência; terceiro, proceder às correções necessárias para que modelo e realidade coincidam. [..] Mas se por um instante ele deixava de fixar a harmoniosa figura geométrica desenhada no céu dos modelos ideais, saltava a seus olhos uma paisagem humana em que a monstruosidade e os desastres não eram de todo desaparecidos e as linhas do desenho surgiam deformadas e retorcidas. [...] A regra do senhor Palomar foi aos poucos se modificando: agora já desejava uma grande variedade de modelos, se possíveis transformáveis uns nos outros segundo um procedimento combinatório, para encontrar aquele que se adaptasse melhor a uma realidade que por sua vez fosse feita de tantas realidades distintas, no tempo e no espaço. [...] Analisando assim as coisas, o modelo dos modelos almejado por Palomar deverá servir para obter modelos transparentes, diáfanos, sutis como teias de aranha; talvez até mesmo para dissolver os modelos, ou até mesmo para dissolver-se a si próprio.
Neste ponto só restava a Palomar apagar da mente os modelos e os modelos de modelos. Completado também esse passo, eis que ele se depara face a face com a realidade mal padronizável e não homogeneizável, formulando os seus “sins”, os seus “nãos”, os seus “mas”. Para fazer isto, melhor é que a mente permaneça desembaraçada, mobiliada apenas com a memória de fragmentos de experiências e de princípios subentendidos e não demonstráveis. Não é uma linha de conduta da qual possa extrair satisfações especiais, mas é a única que lhe parece praticável.

A partir das principais ideias propostas pelo autor do texto supracitado, estabeleça relações com o AEE.
 Após a realização das leituras indicadas no decorrer do curso, as reflexões, as vivências no cotidiano e a interação com os colegas e a professora tutora , bem como das atividades  colaborativas em rede ( ACR) ficou bem elucidado que todas as pessoas e principalmente aquelas com deficiência devem ser estimuladas e incentivadas.
 Cada ser humano é único,com suas potencialidades, dificuldades , fraquezas e limitações. Assim como Palomar , personagem de Italo Calvino em “O modelo dos modelos “ , que concluiu que não existe o modelo perfeito, o Professor de AEE deve pautar sua prática pedagógica de forma criativa, flexível, investigativa , sempre visando desenvolver ao máximo a potencial de cada aluno.
No AEE ( Atendimento Educacional Especializado)o professor utiliza-se de modelos, sim. Mas, modelos de Planos de AEE. Estes servem de referências, como um norte, um ponto de partida para realizar o atendimento individual. A partir desse roteiro vai se ajustando, adequando, reinventando, acrescentando , subtraindo, enfim até que se torne exeqüível.
Cada sujeito é único, e a proposta do AEE é valorizar as potencialidades, habilidades,respeitando seus limites , suas dificuldades, orientando e estimulando a superação de todas as barreiras que impeçam seu desenvolvimento e sua autonomia.
O ambiente escolar adequado para que haja aprendizado, com oportunidade de crescimento para todos os envolvidos, alunos e profissionais deve ser estimulante e atrativo. Em seu livro “ Educação Soka “ Daisaku Ikeda ressalta:
“ Nossa vida diária está repleta de oportunidades para desenvolvermos a nós mesmos e aos outros que estão ao nosso redor. Cada interação que temos com as outras pessoas, seja por meio do diálogo ou da participação em algo, é uma oportunidade extraordinária para criarmos valor.Aprendemos com as pessoas e é por essa razão que o humanismo dos professores representa a essência da experiência educacional.”
Também em relação aos professores, Ikeda cita no mesmo livro as palavras do seu mestre ,  o professor Tsunesaburu Makiguti: “ Eles não devem ser mestre que se oferecem como modelos de perfeição, mas como coparticipantes na descoberta de novos modelos.”
 Referências Bibliográficas:
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília: MEC/SEESP, 2001.
IKEDA, Daisaku:Educação Soka: uma perspectiva Budista/Daisaku Ikeda; prefácio de Victor Kazanjian;[traduzido por Leila Shimabukura].-1.ed.-São Paulo:Editora Brasil Seikyo,2010.
- ITALO CALVINO, O modelo dos modelos, UFC, 2014. 


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